Norma Braga
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     As duas histórias de Karl Marx — a de sua vida e a de suas idéias — são  reveladoras do quanto marxismo e demonismo se entralaçam inequivocamente.
     Segundo Richard Wurmbrand, autor de Marx & Satan (Era  Karl Marx um satanista?), Karl Marx não visava em primeiro lugar a tão  propalada igualdade comunista, mas sim a destituição de Deus de seu lugar na  sociedade e no coração das pessoas. A julgar por uma das mais eficientes  devastações que o comunismo empreendeu onde quer que fosse implantado — a da fé  (conforme as histórias da Rússia, da Coréia do Norte, da Albânia, da China, de  Cuba etc.) —, isso não parece tão longe da verdade. De fato, todas as expressões  concretas do comunismo, além de não cumprirem com o que prometiam, combateram a  religiosidade de modo tão eficaz que engendraram um povo descrente ou alienado  da transcendência divina, além de uma cruel perseguição aos fiéis  remanescentes.
     Porém, não apenas os resultados diretos da implantação de regimes comunistas  atestam a centralidade do combate à fé. Muitos aspectos da vida de Marx  demonstram uma consciente intenção de opor-se a Deus e uma direta influência  demoníaca, desde sua juventude. O que impulsionou Marx para o comunismo não foi  uma inclinação altruísta, conforme reza a lenda. É o que explica Wurmbrand:  "Não há evidências para a crença de que Marx mantinha nobres ideais com  relação à humanidade e teria adotado uma postura anti-religiosa por ter visto a  religião como obstáculo a esses ideais. Do contrário, Marx odiava qualquer  noção de Deus ou deuses e estava determinado a ser o homem que ia tirar Deus do  cenário — tudo isso antes de abraçar o socialismo, que seria apenas a isca para  que proletários e intelectuais adotassem para si esse intento demoníaco."  Uma das evidências disso é que o primeiro mestre comunista de Marx, Moses Hess,  era também satanista.
     Um de seus biógrafos, Robert Payne, endossa as afirmações de Wurmbrand ao  mencionar um conto infantil inventado por Marx, relatado por sua filha Eleanor:  a história interminável de Röckle, um mago infeliz que vendia relutantemente  seus brinquedos ao diabo por ter feito um pacto com ele.  Diz Payne:  "Sem dúvida essas historietas sem fim eram autobiográficas. Marx tinha a  visão do Diabo sobre o mundo, e a mesma malignidade. Às vezes parecia saber que  cumpria tarefas do mal."
     Impressiona o fato de não se achar em suas cartas a Engels expressões do  desejo de justiça social, mas sim preocupações com dinheiro (Engels o  sustentava) e com heranças vindouras, acompanhadas de linguagem obscena e  maldosas referências à morte iminente de parentes ricos — um tio que ele chama  de "cão velho", por exemplo, cujo falecimento é finalmente celebrado pelos  dois correspondentes. A mesma frieza é percebida no modo sucinto como relata a  Engels a morte da mãe: "Chegou um telegrama há duas horas dizendo que  minha mãe morreu. O Destino precisou levar um membro da família. Eu mesmo estou  com um pé no túmulo. Pelas circunstâncias, sou mais necessário que a velha  mulher. Preciso ir a Trier para ver a herança." É de se notar  especialmente esse tom de quem se refere a uma instância superior de decisão —  não Deus, mas o Destino — atribuindo-lhe ares de sabedoria cósmica ("sou mais  necessário").
     Quando novo, suas cartas ao pai já atestavam que, embora tivesse recebido  educação cristã, afastara-se resolutamente da fé. Escreveu: "Uma cortina  caiu. Meu santo dos santos foi partido ao meio e novos deuses tiveram de ser  instalados ali." Enviou-lhe como presente de aniversário poemas de teor  bastante anti-religioso:
     Por ter descoberto o altíssimo
E por ter encontrado maiores profundezas através da meditação
Sou grande como Deus; envolvo-me em trevas como Ele
Perdi o céu, disto estou certo
Minha alma, antes fiel a Deus,
Está marcada para o inferno.
E por ter encontrado maiores profundezas através da meditação
Sou grande como Deus; envolvo-me em trevas como Ele
Perdi o céu, disto estou certo
Minha alma, antes fiel a Deus,
Está marcada para o inferno.
     Seu companheiro Mikhail Bakunin, com quem criou a primeira Internacional  Comunista, escreveu loas a Satanás de modo flagrante, vinculando-o  estreitamente aos objetivos comunistas: "O Supremo Mal é a revolta  satânica contra a autoridade divina, revolta em que podemos ver o germe fecundo  de todas as emancipações humanas, da revolução." "Socialistas se reconhecem pelas  palavras. No nome daquele a quem um grande erro foi feito." "Satanás  o rebelde eterno, o primeiro livre-pensador e o emancipador de mundos. Ele  faz com que o homem se sinta envergonhado de sua bestial ignorância e de sua  obediência; ele o emancipa, estampa em sua fronte o selo da liberdade e da  humanidade, instando-o a desobedecer e comer o fruto do conhecimento." "Nessa revolução deveremos acordar o Diabo nas pessoas, estimular nelas  as paixões mais vis. Nossa missão é destruir, não edificar. A paixão da  destruição é uma paixão criativa ."
     A vida de Marx é recheada de comportamentos inadmissíveis e acontecimentos trágicos, assim  como ocorre com todos os que se envolvem de perto com o demônio. Vivia às  custas de Engels e da herança de parentes, embora pudesse se sustentar com seu  conhecimento de línguas e a formação especializada, um doutorado em filosofia. 
     Sua esposa abandonou-o duas vezes, voltando sempre, e ele sequer compareceu a  seu funeral. Três de seus filhos pequenos morreram de desnutrição, sendo que  pelo menos um deles, segundo a própria esposa de Marx, foi vítima dos descuidos  do marido com relação ao sustento da família. Tivera ainda um filho com a  empregada, negado e tratado como se fosse de Engels — que revelou o engodo em  seu leito de morte a uma das filhas de Marx, com a preocupação de que ela não  endeusasse o pai. Tinha, com essa, três filhas, que morreram novas: duas delas,  do cumprimento de pactos de suicídio com os maridos (um deles se arrependeu e  não cumpriu o ato).
     Os livros que escreveu, além de trazer uma linguagem  vociferante de ódio, vinham recheados de dados inventados e citações falsas de  autores como W.E. Gladstone e Adam Smith — distorções consideradas intencionais  por pesquisadores de Cambridge, não fruto de displicência. Era dado a  bebedeiras e irascível muito além do limite da tolerância: perdia amizades  facilmente. Pessoas de sua convivência lhe atribuíram diversas vezes o epíteto  "ditador" e um coração rancoroso.
     O próprio Bakunin no final declara:  "Marx não acredita em Deus mas acredita bastante em si mesmo e faz todo mundo  o servir. Seu coração não é cheio de amor, mas de rancor, e ele tem muito pouca  simpatia pela raça humana." Fiel ao sábio princípio de não separar o  pensamento do autor de sua biografia, Paul Johnson comenta de modo dramático as  conseqüências da herança marxista na Rússia e na China: "No devido tempo,  Lênin, Stálin e Mao Tsé-Tung puseram em prática, numa imensa escala, a  violência que Marx trazia em seu íntimo e que transpira em sua obra."
     Escrevo sobre Marx e já me vem à mente a história de Stálin contada por sua  filha, Svetlana Alliuyeva. Em Vinte Cartas a um Amigo, ela realiza uma  crescente e emocionada catarse ao falar de sua infância e juventude. Presenciou  o devastamento de seus entes queridos, alvo das desconfianças obsessivas do  pai. Quando não eram assassinados por supostas traições ao regime — parentes  próximos, como seus tios, e também amigos íntimos da família —, sucumbiam a  gigantescas pressões de morte, seja progressiva (seu irmão alcoólatra) ou  imediata (o suicídio de sua mãe aos 30 anos). Na última carta, uma frase sua em  especial assusta pela desolação com que constata: "Em torno de meu pai  havia uma espécie de círculo negro — todos os que caíam em seu interior  pereciam, destruíam-se, desapareciam da vida…" Examinando-se de perto a  vida de Karl Marx e o posterior desenvolvimento do marxismo, tem-se a impressão  de que o mesmo poderia ser dito dele, sem temor algum de exageros.
     Intuindo o quanto a Rússia adotaria seus princípios, pouco antes de morrer  Marx manifestava orgulho especial pela recepção de suas obras no país. Décadas  mais tarde, o impressionante  slogan soviético "Banir os capitalistas  da terra e expulsar Deus do céu" não só confirmaria essa intuição, mas,  principalmente, tornaria flagrante a missão do projeto marxista desde estados  embrionários: destruir a fé em Deus. Em países como o Brasil, essa  anti-religiosidade tem sido amenizada para passar a falsa impressão de um  comunismo mais conforme à necessidade humana de transcendência, algo  indissociável de nossa cultura. No entanto, as duas histórias de Karl Marx — a  de sua vida e a de suas idéias — são reveladoras do quanto marxismo e demonismo  se entralaçam inequivocamente. É estudar para saber.
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      Fontes:
     Alliyueva, Svetlana. Vinte cartas a um amigo: as memórias da filha de  Stálin . Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1967.
     Johnson, Paul. Os intelectuais. Rio de Janeiro, Imago, 1988,  capítulo 3, p. 64 a 94.
     Wurmbrand, Richard. Marx  & Satan. Living Sacrifice Book Co, 1986, capítulo 2, p. 20 a 35.
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     * * * Publicado no site Midia Sem Máscara em 01/07/2006.

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